MATERIAL INTERATIVO

GUIA SOCIOEDUCATIVO DOMICILIAR PARA AS
FAMÍLIAS EM PERÍODO DE QUARENTENA

Giuliana de Angelis Depieri Malagutti
Departamento de Psicologia

NOSSA ESCOLA HUMANISTA



A Escola é o lugar da vida, inspira esperança, nutre inteligência e amor e é o lugar em que nos amparamos, nos enredamos construindo uma rede de aliança e proteção entre família e escola, na qual a família tem a missão de nutrir com amor, afeto e dar a vida e a escola tem a missão de garantir um espaço coletivo, firme e sólido para a criança se desenvolver entre seus pares e enquanto um ser que busca, pesquisa, cria e produz no mundo.



Nesse momento de distanciamento social, vamos impulsionar nossas crianças para continuar aprendendo através das plataformas online, que alterou os formatos de relação, mas o local de pertencimento e de identidade escolar permanece e por isso vamos juntos sustentar essa aposta de ser um lugar acolhedor e disparador de novos conhecimentos cognitivos, sociais, humanos e afetivos. Estamos buscando aprimorar e adaptar a proposta educacional aos recursos disponíveis, possíveis e coerentes com o processo de ensino-aprendizagem idealizados pela escola. Estaremos em conexão ligados por um fio que sustenta o laço, dispara conhecimentos e reforça a relação.


Para fortalecermos nossa parceria nessa tarefa do ambiente escolar ser a nova EDUCAÇÃO EM LINHA e continuar seu objetivo de auxiliar na constituição de um ser pensante e pesquisador, seguem algumas dicas para minimizarmos os riscos diante da tecnologia e da convivência familiar:

PREPARAÇÃO DO AMBIENTE



O mais importante é que se busque um ambiente confortável e propício para a realização dessas atividades, com uma mesa e uma cadeira (confortável e estável) em que a criança consiga alcançar os pés no chão (pode-se usar um banquinho para os pés) e que a cabeça esteja ereta em relação ao corpo, na posição mais confortável possível. Além disso, verifiquem se a imagem do aparelho está adequada, em formato horizontal e percebam se é necessário que a criança utilize um fone de ouvido para facilitar a chegada do som, garantindo maior foco e concentração. Retirem do ambiente de estudo o máximo de estímulos externos que possam atrapalhar a concentração durante a aula. Preparem um ambiente silencioso e com boa luminosidade. Sinalizem e lembrem a criança com 30 min de antecedência da aula para organização mental e espacial da criança; percebam se está alimentada, foi ao banheiro anteriormente, e deixem separada uma garrafinha de água ao lado. Garantam sempre que ela está segura e acolhida por vocês e pela escola. Podem brincar dizendo que elas estão indo para a escola e que a aula já vai começar. Algumas crianças têm gostado de usar uniforme para as aulas online. Compartilhe o acompanhamento das atividades do seu filho. Toda essa organização do ambiente pode ser feita em conjunto com a criança, para que ela aprenda a organizar seu próprio espaço e fique feliz com o resultado!

FLEXIBILIZE AS EXPECTATIVAS



Flexibilize as expectativas! Não existe o melhor formato de aprendizagem frente a esse contexto que estamos vivendo, pois isso depende dos recursos que as escolas e famílias têm disponíveis para tal tarefa. Isso inclui a maturidade dos alunos, o tempo dos pais, os recursos tecnológicos e ferramentas digitais – devemos sempre equacionar as possibilidades de aprender – de forma branda e possível, sem que as cobranças se sobreponham à tolerância e a consciência de que não será possível dar conta perfeitamente de todas as atividades. Pondere as circunstâncias: nas aulas online tentaremos ao máximo diminuir e equalizar as variáveis para obtermos o resultado de uma boa aula. Como tudo o que é novo, necessita-se um tempo para a adaptação e para isso é preciso paciência, respeitando o ritmo de cada um.

COMO A CRIANÇA SE COMPORTA NA VIDEO AULA



Temos uma expectativa de olharmos nossos filhos sentados e concentrados durante a aula, mas devemos nos lembrar que os parâmetros que nós temos do que é uma escola (resultado de nossas vivencias) são diferentes das nossas crianças que ainda estão construindo esse modelo, por isso, vamos sempre lembrar que a escola é um espaço de convivência das crianças e que elas ainda estão aprendendo como se comportar dentro do coletivo, então o exercício de esperar a vez, controlar o corpo e a voz, controlar os impulsos e os desejos e lidar com a frustração de não ser atendido são habilidades socioemocionais que estão em desenvolvimento nessa fase de educação infantil. Eles ainda não estão prontos! Mas estão crescendo, olhando os modelos de identificação, copiando, ensaiando e imitando nossos gestos e nossos olhares, por isso nesse momento vocês ofertam a bagagem de casa de como se comportar e a escola valida em conjunto.

Uma sugestão é que vocês sejam os assistentes das crianças, expectadores e mediadores e não se envergonhem por qualquer agitação, distração, se estão resistentes ou quietos durantes as aulas. Vocês podem ofertar, estimular, validar e acompanhar para olhar como eles estão se desenvolvendo como aprendizes. Por isso qualquer observação sobre comportamento que chame a atenção, dificuldades na compreensão das atividades ou desempenho irregular, nos informe para avaliarmos juntos se o passo – a – passo precisa de ajustes e ser readequado. Essa parceria é extremamente importante.

PLATAFORMAS DIGITAIS



As plataformas não têm como substituir perfeitamente as aulas presenciais, mas servem como importantes ferramentas de conexão e de continuidade do processo de aprendizagem em tempos de distanciamento. Destaque para a criança os aspectos desafiadores e positivos dessas plataformas: a possibilidade de ver a professora e os colegas, de aprender conteúdos novos em formatos diferentes e de aprender a usar ferramentas digitais. A maioria das crianças, ainda que utilizem aparelhos eletrônicos para o lazer, não estão acostumadas a tê-los como recurso escolar, muito menos como centrais no contexto de aula. Assim, é normal que estranhem as plataformas e tenham dificuldades de uso e de concentração nelas.

Faça cartazes, desenhos e/ou figuras que indiquem quais atividades a criança deve realizar em cada dia, possibilitando que ela visualize a própria rotina. Torne essa rotina flexível. Dentro do possível, intercale entre períodos de estudo e períodos de atividades lúdicas e brincadeiras. Convide ela a planejar essa rotina com você, escolhendo as atividades que tenha mais vontade de fazer e em qual momento do dia quer realizar cada uma.

Em geral, as crianças se sentem melhores com uma organização de seu tempo através de rotinas. Não há necessidade de cumprir tudo à risca, mas é benéfico que a criança saiba as principais atividades de cada dia, para a sua organização mental. Uma dica para isso é a utilização de planilhas, permitindo visualizar a distribuição de tarefas. Mantenha um espaço da casa destinado à realização das atividades escolares.

O TEMPO DA CRIANÇA



Estamos em plena vivencia atemporal onde a casa se torna multifuncional: home office, tarefas domiciliares, atividade escolar, local de brincadeira e hobbies, e nessa mistura percebemos que nem sempre conseguimos garantir a melhor rotina e que cada criança tem o seu tempo e exige bastante paciência, pois os códigos sociais ainda estão se desenvolvendo e elas ainda estão aprendendo a se concentrar e ter autocontrole, então deixe que ela faça a própria atividade, pois é parte do seu processo de aprendizagem. Por isso, não faça por ela, valorize aquilo que ela conseguiu fazer, comemorando e vibrando qualquer produção.

Estabeleça períodos de estudo não muito longos (em torno de 30/40 minutos para os menores, estendendo-se conforme a idade) para evitar que a criança fique cansada e acabe se dispersando. Cuide da alimentação e do sono. Isso é essencial para que a criança esteja bem e consiga realizar as atividades.

Não culpe a si mesmo nem à criança por não conseguir realizar todas as atividades previstas. É um período de instabilidade e é natural que as famílias se desorganizem. A situação atual é atípica, portanto, é natural que nem tudo aconteça como planejado. Assim, não se deve criar expectativas de produtividade na quarentena. Se tranquilizem com o que foi possível, diminuam as exigências interna e comemore o que está dando certo!!!

QUALIDADE x QUANTIDADE



O foco não é na quantidade de tarefas, e sim na qualidade das conexões estabelecidas tanto dentro de casa quanto de forma virtual, com todos os atores envolvidos no processo: professores, colegas e família. Por isso, é aconselhável nesse momento investir na conexão com seus filhos, redescobrindo seu universo de brincadeiras, gostos e manias. As consequências serão positivas para todos os envolvidos. É um momento especial de observarem como é o cérebro da criança: como eles pensam, agem, aprendem, qual melhor formato, qual qualidade mais marcante, o que brilha aos olhos, o que chama a atenção, qual tema se interessa mais. Estamos no laboratório infantil dentro das nossas casas!!!! Se aproximem, brinquem, se misturem, e se conheçam para que essa parentalidade de culturas, crenças, valores e modos de ser estejam cada vez mais enraizadas nas crianças e sejam um guia interno.

RECONHEÇA OS SENTIMENTOS



Em uma situação tão atípica como essa, devemos ter bastante calmaria e lucidez interna para exercitar o tempo das coisas acontecerem, e ser expectador, observando também como nossas crianças estão absorvendo essas inconstâncias externas de futuro incerto, certezas abaladas, mudança da rota e de objetivos na vida, as emoções na garganta, as novas angustias, ansiedades e o medo que reina entre nós. É preciso ter paciência e compreender que a criança também está vivenciando uma situação atípica, longe do ambiente e da rotina da escola e do convívio com colegas e professores, sentindo-se muitas vezes estressada e angustiada. Garantir o mínimo de mudança é uma das estratégias, portanto, ofertem as ligações que eles já possuem: com amiguinhos, com familiares, com a voz da professora, com a musica da escola, com a aula da professora, com o cheiro da comida, com a casa acolhedora, com a escola que está dentro de casa, garantindo que esses elos estejam fortalecidos.

Mas é sempre importante reconhecer os sentimentos das crianças: acolha-os e deixe que os expressem, conversando com elas sobre as mudanças que todos estão enfrentando. Escute a criança com calma e se empatize com ela, tentando entender como ela se sente e como ela compreende o que está acontecendo. Se vocês se alterarem no tom de voz e saírem do prumo, se acalmem, reconheçam o sentimento de vocês e depois digam para a criança o porquê vocês se comportaram daquela forma e o porquê ficaram nervosos, criando sempre uma cena sequencial que faça sentido para as crianças.

Permita e aceite os sentimentos, positivos e negativos. Se a criança se sentir triste, deixe que se sinta assim. A tristeza é um sentimento real e, como tal, precisa ser vivenciado; e o choro pode ser uma forma de expressá-lo. Fique ao lado da criança, permita e acolha esses sentimentos.

FRUSTRAÇÃO



A frustração é um estado emocional que vivenciamos quando somos impedidos de realizar algum desejo, decorrentes da nossa expectativa, levando a sentir um desânimo e incômodo e pode significar um cansaço, uma sensação de desamparo ou desatenção pelo adulto, ou por não conseguir o que almeja e sentir-se decepcionada. Enfatize que os erros são naturais e fazem parte do processo de aprendizagem, ressaltando que todos estão aprendendo de uma forma "diferente" durante esse processo de atividades domiciliares. Dosem os sentimentos e ajude a criança perceber se aquela explosão é adequada ou não a cena em questão e a ajude a encontrar outras formas de solucionar. O sentimento de frustração não precisa ser incapacitante, podemos transformá-lo em força motriz para perseguir objetivos, então é um ótimo exercício na infância: Racionalizar, dosar as expectativas, cultivar a empatia, controlar a autocrítica e reconhecer os esforços!

EMPATIA

Tenha compaixão com você mesmo e com seus filhos! Para cuidar bem dos outros, é necessário cuidar bem de si mesmo. É de grande importância que os responsáveis sejam gentis consigo mesmos, entendam suas dificuldades, não se cobrem demais e tenham, dentro do possível, algum momento de autocuidado, pois estão em uma posição bastante estressante. A conversa é muito importante para que todos se escutem, se entendam e possam sentir mais empatia um pelo outro. De alguma forma, com maior ou menor entendimento (conforme sua faixa etária e capacidade cognitiva), ela está percebendo e vivendo as tensões desse momento e dos seus familiares.

RESILIÊNCIA



Como exercitar a percepção ao nosso estado emocional em tempos de distanciamento social? Como não nos abalarmos sem buscar um equilíbrio de regulação interna? É sempre importante olharmos para nossa capacidade de reagir de forma positiva diante as adversidades, problemas e pressões do dia a dia, dando espaço para sentir a dor e a preocupação, mas sempre em alerta para não padecer ou adoecer nesse processo, encontrando soluções para enfrentamento, sendo protagonista das ações, assumindo as direções e fazendo esse exercício de retornar ao equilíbrio após desgaste emocional. Precisamos ser capazes de acreditar em si mesmos e na nossa capacidade de gerenciar de forma eficaz os desafios da vida, sendo flexível para ajustar as arestas e rever alternativas. Além disso é importante mentalizar sempre o positivo e não se paralisar no negativo. Algumas dicas para lidar com esses novos desafios atuais é poder expressar as emoções e aliviar as tensões, seja escrevendo, desenhando, lendo um livro, fazendo exercício, dançando ou cantando, meditando, fazendo terapia, conversando com amigos ou fazendo alguma ação solidária, sempre na direção de aliviar, agregar novos sentidos e aumentar a criatividade.

Vamos nos orgulhar de estarmos unidos nessa jornada, nos apoiando, dividindo experiencias e adquirindo novos saberes! Vamos sorrir sempre e agradecer. Quem sorri é mais produtivo, mais criativo e mais saudável

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